domingo, 28 de dezembro de 2014

Festas novembrinas - independência de Cartagena

Manhã nublada do dia 11 de novembro. No dia seguinte à aventura na praia, agora finalmente eu iria conhecer o centro histórico de Cartagena.

Eu tinha lido alguma coisa sobre as festas novembrinas, mas não sabia muito bem como funcionavam.

Independência de Cartagena? Como assim?

Pois bem: em 11 de novembro de 1811, Cartagena declarou-se independente da Espanha. Esse foi o início do processo de independência política das colônias espanholas. Não à toa a cidade é conhecida como "La Heroica": resistiu aos piratas, deu início às lutas pela independência...

Mais detalhes no site de informações turísticas da Colômbia, que explica também as tradições da festa.

De maneira muito resumida, a programação das festas incluem: desfiles militares, e logo em seguida um desfile que lembra o carnaval brasileiro - com grupos folclóricos formados por pessoas fantasiadas de várias idades -, o concurso em que é escolhida a miss Colômbia (a "Señorita Colombia") e umas baguncinhas pelas ruas, num esquema meio parecido com o mela-mela do carnaval cearense: no caso, as pessoas usam spray de espuma para sujarem umas as outras.

As festas tomam mais de um dia, e confesso que não entendi muito bem como é a programação dos eventos em cada um deles. As festas têm lugar em vários pontos da cidade. Um detalhe importante: 13 de novembro é feriado em Cartagena! Alguns estabelecimentos funcionam normalmente e outros, em horário reduzido. O ônibus que faz o city tour, por exemplo, não rodou nesse dia. Falo mais sobre isso no post que ainda vou escrever sobre esse passeio. 

Saí do hotel lá pelas 9:30 rumo à cidade murada. Andei um pouco pelas ruazinhas e, numa praça, vi uma banda militar se organizando. E, perto do colégio salesiano, mais grupos tratando dos últimos detalhes antes do desfile - que começou entre 10:30 e 11h. Vi uma parte do alto da muralha; depois desci para ver mais de perto.
Concentração de pessoas e caninos
Tem que ser louco ou muito corajoso... ou ambos!

Já vai começar...

Turistas e moradores da cidade esperando o início do desfile no alto da muralha

Lá pelas tantas, algumas policiais apareceram com caixas de transporte e umas mochilas amarelas. Tiraram uns cãezinhos - filhotes vira-latinhas - e cada uma pôs um na mochila, como se fosse uma bolsa canguru. As crianças foram lá conferir. E eu também, claro!
Perguntei a uma delas se estavam sendo treinados para alguma atividade na polícia e ela disse que não, mas... bem, nessa hora meu espanhol falhou e confesso que não entendi a resposta dela. :-(

Óunti...
E começou o desfile. Primeiro com a banda marcial. Vários regimentos de polícia e forças armadas foram se apresentando.
Os xilofones dão uma sonoridade interessante ao desfile

Quem quiser ver o desfile no nível da rua tem que se espremer um pouco... ou atravessar para o lado que pega sol
Li em algum site que essa roupa de gala verde é uma homenagem às índias wayuu
  Mais policiais chiquérrimas

Por falar em chiqueza...

A viatura Ferrari da foto acima fez sucesso com um turista - acredito que italiano - que procurou o melhor ângulo para fazer uma foto caprichada. Acredito que o carro tenha sido resultado de alguma apreensão.

Depois dos militares e policiais, vieram os grupos folclóricos:
 
Que aflição ver esse pessoal andando de um lado para o outro com essas pernas de pau! 
A bandeira que os pernas-de-pau carregam é a da província de Nova Granada, que se declarou independente da Espanha no início de todo o processo que é comemorado nessa festa.


Difícl não se lembrar das nossas baianas
Pessoal desfilando com a camisa da seleção colombiana
Durante o tempo que passei em Cartagena, vi muita gente nas ruas com a camisa da seleção da Colômbia: tanto a principal, amarela, quanto as camisas reserva.
Arquibancadas montadas na Av Santander para o desfile - não sei como funcionou o esquema aqui... acho que esse foi no dia 13
Galeria das misses Colômbia na cidade murada. Vi algumas pessoas nas ruas usando camisetas com a foto de sua candidata. Bastante cobertura pela imprensa também. Os colombianos levam a sério o concurso de miss
O desfile do dia 11, visto do ponto de partida (não sei como é para quem o vê das arquibancadas) não chega a ser suntuoso. Os grupos folclóricos têm 15 a 20 participantes cada um. A rua é estreita e eles passam um pouco rápido. Mas a alegria de quem desfila é contagiante. A gente vê como eles se sentem felizes em participar. E a produção é bem caprichada, com roupas bem feitas e coloridas. Esse foi o dia em que mais tirei fotos. Boa parte delas está no Flickr do Goulash. Passe lá!

E tem mais, como dizem os publicitários da Polishop!
Depois do desfile, fui andar pela cidade murada e acabei numa rua de comércio popular. Entrei numa loja de cosméticos, comprei uns esmaltinhos de balaio (não resisto, haha!) e, na saída, vi dois adolescentes pintados de preto. Eles olharam um para o outro, olharam para mim e vinham me abordando. Fiquei com medo que eles quisessem me sujar e eles foram simpáticos: não me sujaram, haha! Aí pedi para tirarmos uma foto. Afinal, não é todo dia que se faz uma selfie com meninos pintados de preto!
Selfie con los negritos! :-)
Pena que eu não tenha acertado a altura da câmera, mas tá valendo. Gosto de fotos que contam histórias, mesmo que a foto em si fique tosca.

Depois eu soube que esses meninos pintados de preto são conhecidos como "negritos". Têm fama de serem "do mal" e exigirem moedas das pessoas para não sujá-las ou não sujar os microônibus fora das áreas turísticas. 

Na verdade, nem tudo são flores nas festas novembrinas. Como no carnaval, tem muita bagunça. Onde tem ajuntamento de gente, bebida e festa, aparecem pessoas não tão bem intencionadas: batedores de carteira e problemas do gênero. Para quem quiser conferir a festa e aproveitar só o lado bom, vale pedir dicas aos cartageneros.

Algumas matérias sobre as festas. Muitas são de jornal e pode ser que expirem!
- História da festa: matéria no jornal El Tiempo
- Várias reportagens e galerias de fotos: matérias no jornal El Universal, de Cartagena
- Algumas polêmicas. Uma delas foi causada por uma placa dedicada aos piratas ingleses que atacaram a cidade durante o período colonial
- Cuidados que devem ser tomados. Uma dica, confirmada por mim, é: leve água!
- Costumes considerados irritantes pela população. A matéria explica um pouco da polêmica sobre os negritos.

Blog em português: confira!

Hasta lueguito!


 

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Pegando um bronzeado! Playa Blanca e Islas del Rosario

Acordei cedo e fui para a área do café da manhã. Vi uma família conversando em português e meu lado caradepauzístico aflorou. Aquela era uma das muitas conversas entre brasileiros que eu ouviria em Cartagena... os brazucas tinham invadido a cidade, junto com argentinos e outros latino-americanos. Vi alguns europeus e norte-americanos também - geralmente jovens mochileiros -, mas eram minoria.

Conversando com a família - pai, mãe e duas filhas adultas jovens -, descobri que eles moravam no mesmo bairro que eu em Brasília. E mais: eles tinham agendado um passeio a Rosario e Playa Blanca. 40 mil pesos (ou 45, não lembro) mais 13.500 de taxa a ser paga no porto. O pessoal da agência de turismo passaria com a van no hotel às 8:30. Esperei junto com eles e perguntei se ainda teriam vaga. Tinham. Então bora lá!

A van passou em outros hotéis da região e nos levou ao muelle de la Bodeguita (em frente à Torre del Reloj), de onde partiriam as lanchas. Faríamos o passeio, digamos, clássico: Playa Blanca (quem quiser, pode descer e ficar direto lá) - Islas del Rosario (opções: fazer snorkelling perto de um barco de apoio ou ficar na praia; tem também o oceanário, mas não funciona às segundas e por isso não tivemos essa opção) - Playa Blanca e retorno a Cartagena.

As opções de transporte são:
- lancha: saída de Cartagena às 9:00 ou 9:30; chegada à Playa Blanca lá pelas 10:30 para desembarque dos interessados; chegada a Rosario entre 11:00 e 11:30; partida para a Playa Blanca lá pelas 13:00 e partida para Cartagena às 15:00, chegando lá pelas 16:00;
- barca: dizem que o trajeto é mais confortável, mas é bem mais lento e isso prejudica o tempo que você passa na praia; não conheço ninguém que tenha feito e não tenho como opinar;
- ônibus ou van: a "ilha" Barú, onde fica a Playa Blanca, é na verdade uma península. Aqui e aqui vão algumas orientações sobre como chegar lá, inclusive por via terrestre. Uma outra opção de transporte terrestre é oferecida pela Mamallena Tours. As saídas são diárias em frente ao hostel de mesmo nome, no bairro Getsemaní.
Acredito que as lanchas rápidas sejam a forma mais popular.

No trajeto até o porto, tínhamos recebido uma folha para preenchermos nossos nomes. Esses nomes foram conferidos e chamados pela outra equipe, a da barca. É bom escrever seu nominho com letra legível! Tarefa nem sempre fácil quando se está numa van em movimento. 

Entramos na barca e cada um pegou e vestiu seu colete. Eu já tinha feito alguns trajetos de barco em que o colete fica só de enfeite (se o barco começar a afundar, você briga pelo seu e veste: catamarã para Morro de São Paulo, barca Rio-Niterói...). Esse passeio costuma receber críticas pelo esquema meio bagunçado (lá na frente eu falo sobre isso) e a questão dos coletes foi tratada de forma quase correta: todos os passageiros já com eles amarrados; mas não vi nenhum barqueiro de colete. EPI sempre, meu povo!

Nesse dia, praticamente não tirei fotos. Tentei gravar alguns vídeos e descobri que não sei fazer isso! Bem, vamos lá:

Pessoal entrando na lancha

O primeiro trecho (Cartagena - Barú) até que foi tranquilo, mas depois a lancha vai muito rápido e entra muita água no barco. Pelo menos quem está na lateral fica encharcado

Chegando à praia. Não lembro se era Playa Blanca ou Rosario


Saindo de Cartagena, passamos primeiro num povoado perto do forte San Fernando de Bocachica. Fica na Isla de Tierra Bomba e é uma vila de pescadores bem humilde. O Google Streetview tem passeios virtuais pelo forte e por uma parte da vila. A lancha deixou e pegou barqueiros em Bocachica. De lá, continuamos rumo a Playa Blanca.

Chegando lá, um grupo de jovens norte-americanos desceu. Apesar de ter lido na internet muita gente dizendo que não valia a pena o passeio a Rosario (pelo menos não à praia pública), decidi ir para formar minha própria opinião.

Chegando a Rosario, tivemos a opção de ficar na praia ou fazer snorkelling, nesse último caso por um adicional de 30.000 pesos. Optei por ficar na praia. Para desembarcar, usamos um pequeno píer. Os barcos ficavam no mar dando apoio ao pessoal do snorkel. Quando voltavam ao píer, sabíamos que era hora de partir para a próxima etapa. A praia era de pequena extensão - delimitada por umas porções de mangue, com umas casinhas de apoio mais para a parte de dentro... local sem muita estrutura. Pendurei minha sacola numa árvore e fui para a água tentar ver alguma coisa com o snorkel que eu tinha comprado em Brasília. Fail total! Depois de algumas tentativas engolindo água salgada, desisti. Eu devia ter treinado antes em alguma piscina. 

Pendurar as coisas numa árvore e ir para o mar? Pois é, eu não tinha a quem pedir que ficasse olhando minhas coisas (em Barú, pedi esse favorzinho à família brasiliense que tinha ido junto). Outras pessoas estavam fazendo a mesma coisa e fui na confiança. Na verdade eu estava com um porta-trecos que tinha comprado numa loja de mergulho antes de viajar, onde tinha colocado o dinheiro. Na verdade era um porta-celular, que serviu bem para isso.

A água estava esverdeada e não muito cristalina: algumas folhas e sedimentos das ilhas próximas, talvez por causa das chuvas. Rosario tinha alguns vendedores ambulantes, mas nada comparado ao que veríamos depois em Playa Blanca!

De Rosario a Playa Blanca, o barco foi super rápido. A descida da lancha foi mais complicada, pois não havia píer. Tínhamos que pular na água a uma altura que batia na cintura da maioria das pessoas. No nosso barco havia um casal com um bebê (muito fofo, com a camisa da seleção colombiana) e foi difícil para eles. Havia também algumas pessoas idosas, que em alguns casos foram carregadas no colo por outros passageiros. Eu, muito desastrada, caí com o traseiro no assento antes de conseguir sair do barco. Foi fácil escorregar, já que o barco estava cheio de água (vimos os rapazes tirando uma parte com baldes enquanto estávamos na praia). Pelo menos não machuquei o tornozelo - que ainda não está totalmente bom desde a torção que sofri em fevereiro.

Playa Blanca tem água mais cristalinas, mas vi uma ou outra garrafa plástica por ali. É uma região atingida pelo turismo de massa. Não estava superlotada, pois era segunda-feira e em baixa temporada. Os vendedores ambulantes, muitos e insistentes. Vendedores de colares, de todo tipo de comida, mulheres oferecendo massagem... uma já foi pegando no meu pé e começou a esfregá-lo com creme. Tive que ser rápida e incisiva. Às vezes acabava entrando na água mais para fugir dos vendedores, hahaha!

O mar não tinha ondas - somente umas marolinhas muito leves. Acostumada ao mar bravo que predomina no Ceará, aquilo para mim foi uma coisa incrível e fascinante. Entrei na água e fiquei simplesmente boiando. Aqueles momentos valeram o stress do desembarque e dos ambulantes.

Bateu a fome e nosso pacote não incluía almoço. O que não falta são vendedores de bebidas e comidas. Já que não como peixe, pedi uma salada de frutas (5.000 pesos) e uma cocada (2.000). Também acabei pedindo uma água de coco, a mais cara que tomei na vida: 5.000 pesos (cerca de 7 reais!!!). Eu tinha levado água mineral, mas não em quantidade suficiente. Vacilei.

Se em Rosario os barcos ficam separados dos banhistas, em Playa Blanca isso não acontece. Banana boats e embarcações em geral ficam passando entre as pessoas. Não vi nenhuma situação de risco real, mas isso porque não havia tanta gente assim. Em alta temporada acredito que possa ser perigoso.

Playa Blanca

Antes que a maré ficasse mais alta, os barqueiros nos chamaram e voltamos a Cartagena. É importante prestar atenção para não perder o barco! Mesmo esquema: lancha rapidíssima e muita água entrando.

Resumindo, com algumas dicas:

- Importantíssimo levar pelo menos 1 litro de água. Eu tinha levado só uma garrafinha de 500ml e acabei me submetendo a comprar a caríssima água de coco de 5.000 pesos.
- Protetor solar! Eu até tinha levado, mas não me preocupei com as aplicações - estava nublado - e depois fiquei com a pele descascando. 
- Chapéu e/ou boné: não senti necessidade porque estava nublado, mas recomendo.
- Se levar snorkel, aprenda a usá-lo antes!
- Não aceite "regalos" (presentes) dos vendedores, como ostras para degustação. Caiu na rede, é peixe. Eles cobram, e muito caro. Lembre-se daquela frase dos economistas: "Não existe almoço grátis!"
- As condições de higiene são um tanto precárias - cães andando na areia, uma ou outra garrafa de plástico por aí... - se não quiser se arriscar, leve alguma coisinha para comer.
- Se quiser escapar do assédio dos ambulantes, vi em alguns sites por aí que desembarcar em Playa Blanca e andar um pouco para mais longe é uma boa opção. Fique de olho no local e no horário para não se arriscar a perder a lancha na volta!
- O embarque/desembarque da lancha em Playa Blanca é difícil. Idosos, pessoas recuperando-se de lesões, crianças... cuidado! Vale a pena pensar numa outra forma de transporte ou num passeio a uma praia com píer.
- A estrutura de cadeiras e barracas é pouca e cobrada à parte. Estendi minha canga na areia e fui feliz.
- Muita água entra na lancha. Fiquei encharcada. Isso pode ser um problema na hora de pegar táxi em Cartagena, porque os motoristas normalmente não aceitam transportar passageiros ensopados. Para evitar esse problema, o melhor é ficar no meio da lancha (não na lateral) e/ou levar uma roupa reserva bem protegida em sacola plástica. Ou voltar a pé para o hotel, como eu fiz!
- Tem gente que leva sapatilhas de praia para proteger os pés de conchas e corais. Eu tinha comprado um par desses calçados em Brasília e não senti essa necessidade - talvez se tivesse me aventurado mais em Barú. No fim acho que valeu a pena porque eles firmam mais os pés do que as sandálias havaianas. Para entrar e sair da lancha, ou para voltar ao hotel, foi ótimo. Mas eles acumulam muita areia e demoram a secar.

Resumindo (2), com a minha impressão pessoal:
Nossa, falei tanto da infra, dos vendedores, etc... fica até parecendo que não gostei do passeio ou que me arrependo de ter feito. 

A resposta é: arrependimento zero! No final, o saldo foi positivo. Os momentos flutuando na água foram preciosos e relaxantes. Sem falar que estou com baixa de vitamina D e precisava tomar um solzinho! Apenas, se fosse fazer de novo, pensaria em ir a Barú por via terrestre e ficar explorando por lá. Mas a verdade é que não sou rata de praia e, quando vou ao litoral, gosto mesmo é de fazer caminhada na orla.

Apenas achei importante colocar alguns alertas para que ninguém se iluda com falsas expectativas. Para quem quer luxo ou apenas um pouco mais de conforto, alguns hotéis (por exemplo, o Cocoliso Resort) ficam em praias particulares que oferecem uma estrutura melhor, sem ambulantes e com a opção de passeio bate-e-volta. Claro que isso tem um preço.

Para quem tem, digamos, dois dias em Cartagena e outros dias em San Andres, Santa Marta ou qualquer outro destino de praia, aí sim eu ousaria dar uma sugestão: usar os dois dias para aproveitar a cidade murada e os museus (não é muito tempo) e aproveitar as praias dos outros destinos. Queimar um entre poucos dias na parte histórica para usá-lo numa praia que nem vai ser a melhor do roteiro é algo que, na minha opinião, não vai valer a pena.

Porém, como sempre insisto aqui no blog: viagem é uma coisa muito pessoal. Esse passeio é polêmico - uns amam, outros odeiam. Para quem está razoavelmente bem informado e com expectativas realistas, pode valer a pena, sim - e no meu caso, que gosto de "antropologizar", ver as pessoas e sentir-me parte de um grupo, foi uma experiência única. O importante ao ver as dicas é pensar no que lhe dá um sentimento de identificação. No que serve para você e para seus ideais de viagem.

Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena. (Fernando Pessoa)

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Filme: Guten Tag, Ramón (com bônus)

Antes do filme que vou comentar no post, foram exibidas as instruções clássicas (desligue o celular, fique atento às saídas de emergência...), acho que algum trailer (não lembro!) e um documentário curta-metragem chamado "Ombligados en Jurubirá". É sobre uma tradição mística com o cordão umbilical dos recém nascidos num povoado no Pacífico colombiano, e como isso simboliza o sentimento de identidade daquelas pessoas.

 Trailer - Ombligados en Jurubirá

Sei que no Brasil existiam (ainda existem?) simpatias com o enterro dos cordões umbilicais; mas sou da geração que não nasceu de parteira, e sim de obstetra em parto cesariana. Nem tenho ideia do que aconteceu com meu cordão e minha mãe devia estar muito grogue de anestesia para pensar nisso. Achei interessante o documentário - mais algumas coisas que aprendi sobre um pedacinho da Colômbia -, mas infelizmente meu portunhol me traiu durante alguns depoimentos. :-( Infelizmente não achei a versão integral para postar aqui.

Agora vamos ao filme Guten Tag, Ramón, uma co-produção México e Alemanha. As cenas iniciais são impactantes: um grupo de mexicanos escondidos num caminhão tenta entrar nos Estados Unidos. Os coiotes simplesmente somem e largam todo mundo no meio do deserto. A polícia aparece, salva (e, claro, deporta) todos eles - inclusive o jovem Ramón. A partir daí o filme mostra sua cara, bem mais leve.

 Trailer - Guten Tag, Ramón

Ramón vive com a mãe e a avó num povoado no norte do México, sem muitas perspectivas. Tentou entrar ilegalmente nos States várias vezes, sem sucesso, para frustração da avó. Então um dia um amigo sugere que ele tente a Alemanha. Esse amigo, que tem uma tia em Frankfurt, escreve uma carta com o roteiro completo (a locução em off da leitura da carta e a tentativa de pronunciar os nomes em alemão é uma das partes mais divertidas do filme).

Ramón chega com uma reserva em euros, passa pela imigração e vai procurar a tia do amigo. Algumas coisas dão errado e ele se vê sozinho num país cuja língua não conhece. Ainda por cima, é inverno. Mas ele vai conhecendo pessoas e fazendo amizades. Depois de um tempo, está ensinando danças e fazendo pratos típicos para seus novos amigos, principalmente Ruth (uma senhora que vive sozinha num condomínio onde todos os moradores são idosos), Hanna (uma moça que trabalha numa mercearia) e Karl (um dos vizinhos de Ruth). Claro que ele também encontra outras pessoas não tão amistosas assim.

Detalhe: nem os amigos de Ramón falam espanhol (Karl fala um pouco de italiano, mas isso não ajuda muito), nem Ramón fala alemão. A barreira linguística não impede que eles tentem se comunicar, e esse é um dos motores da história.

O filme é uma comédia light com uma pegada sentimental, estilo sessão da tarde. Não espere discussões profundas sobre a questão da imigração na Europa. Na vida real as coisas seriam bem mais difíceis para o personagem, mas aqui a proposta é fazer um filme divertido e simpático - e isso os realizadores conseguiram bem. Impossível não torcer pelos protagonistas.

Na primeira parte, quando Ramón está no México, a plateia às vezes dava risada e eu ficava boiando. Já quando ele está na Alemanha, as falas em espanhol (que passam a ser poucas) são mais lentas e fáceis de entender: é a leitura da carta, é ele tentando se comunicar... a maior parte dos diálogos passa a ser em alemão com legendas em espanhol, e aí fica fácil.

O dia seguinte - meu primeiro dia completo em Cartagena - já foi num esquema mais turístico. Aguardem o próximo post!

Ficha Técnica: Guten Tag, Ramón (2014). Direção: Jorge Ramírez Suárez. Com: Kristyan Ferrer, Ingeborg Schöner e outros. Duração: 120 min. País: México/Alemanha. Gênero: comédia. Distribuidora: 20th Century Fox Film Corporation.

Uma tarde no cinema

Continuando o diário de viagem... como assim, vem aí um post sobre filme? Calma, eu explico.

Deixei as coisas no hotel, tentei tirar um cochilo e vi que não ia conseguir. Eu tinha visto em algum lugar da internet a programação dos cinemas (bem, na ansiedade pela viagem eu havia pesquisado muita coisa) e tinha ficado curiosa para ver essa produção. Estava passando numa sala multiplex num shopping recém inaugurado perto do hotel, o Plaza Bocagrande. É um misto de shopping e prédio de escritórios que ainda não tinha sido totalmente entregue. A parte "shopping" tem 4 pisos (mas não tem tantas lojas assim), sendo o último para os cinemas. É um daqueles shoppings com vãos altos; confesso que deu até um certo medinho durante a subida nas escadas rolantes.

Aqui a programação, caso você um dia vá a Cartagena e queira pegar um cineminha. Sala confortável e, para esse filme, não lotou. A entrada custou 11.500 pesos e quarta-feira todo mundo paga meia. Bem mais barato que na Terra Brasilis... quando dizem que a carteirinha de estudante inflacionou os preços, sou obrigada a concordar.

Deixei de visitar vários locais importantes em Cartagena (ficam para uma próxima viagem!), mas posso bater no peito e dizer que fui ao cinema lá. Não só eu estava curiosa pelo filme, que provavelmente não passaria no Brasil (acho que não chegou mesmo aqui), mas também queria saber se entenderia uma produção em espanhol sem legendas. Na verdade tinha umas legendas sim; explico melhor no próximo post.

Então vamos lá?

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Hospedagem em Cartagena: em que bairro?

Antes de escrever qualquer coisa, vou postar um print bem tosquinho do Wikimapia ilustrando os bairros. O aeroporto fica ao norte e não aparece na figura.
 Print tosquinho dos bairros de Cartagena - clique para ampliar

A cidade amuralhada, ou cidade murada (vou usar os dois nomes indistintamente aqui no blog) é a parte de Cartagena cercada pela muralha [ooohhh!] que inicialmente tinha por função proteger a cidade da força das marés [informação passada por um guia no city tour] e, posteriormente, das invasões de piratas. Cartagena era um dos principais portos de saída das riquezas produzidas no império colonial espanhol. Os piratas ingleses e franceses estavam de olho e não hesitavam em atacar a cidade.

Pois bem, a cidade murada é a região que destaquei com um polígono amarelo na figura acima. Compreende os bairros Centro e San Diego. É a grande atração de Cartagena: praças, ruas estreitas com casas coloridas... o local respira história. Esse bairro abriga muitos hotéis boutique, albergues, além dos mais famosos restaurantes e praticamente todos os museus.
 Plaza de la Aduana num dia nublado
Uma das ruazinhas da cidade murada e seus turistas

El Cabrero e Marbella ficam mais ao norte e estão marcados pela cerquinha acinzentada no print do Wikimapia. A avenida principal é a Santander, à beira-mar. Nela e nas proximidades há alguns hotéis e pousadas. Não são muitos: é a opção de hospedagem que menos vi comentada nos blogs e sites por aí.

Ao sul, ao longo de uma península (cerquinha marrom no mapa), vemos o bairro de Bocagrande. A avenida principal é a San Martín. Essa parte da cidade tem duas orlas: a Carrera 1, voltada para o oceano, e a av. Córdoba, voltada para a baía de Cartagena:


Bocagrande, El Laguito, Castillogrande - abstraiam o mapa desalinhado! Google Earth tem dessas coisas

Bocagrande, avenida (ou rua?) Córdoba

Bocagrande, av. San Martín em mais um print do Streetview (quem mandou não tirar mais fotos?)

Vi muitos sites tratarem de Bocagrande como um bairro que parece Miami. Como não conheço Miami, fica difícil comparar. É um bairro moderno; prédios residenciais altos (20 a 30 andares), shoppings, lojas e vários hotéis. Tem também as praias dos dois lados da península. 

El Laguito: tão pequeno no mapa que nem sei se é considerado um bairro... basicamente ele faz a transição com Castillogrande - este é um bairro mais residencial, também com muitos apartamentos de temporada. 

Finalmente, olhando de novo para o print do Wikimapia, vemos a região marcada em azul: La Matuna e Getsemaní. O bairro de La Matuna é bem pequeno e acaba meio "engolido" pelo irmão maior: Getsemaní é um bairro com muitos albergues e hotéis mais baratos que os localizados no centro histórico.
Getsemaní, perto do centro de convenções


Getsemaní é um bairro que divide opiniões: uns dizem que é perigoso e mulheres sozinhas não devem andar por lá. Outros dizem que é um bairro mais pobre, porém uma boa opção pelos albergues mais em conta e pela vida noturna. Tem um certo "glamour decadente", como se vê nas fotos. É um bairro com um caráter comercial bem forte e parece que algumas ruas ficam desertas à noite ou com um movimento meio "estranho". Não circulei muito por lá (só no ônibus do city tour) e não tenho como dar mais detalhes.

Agora vamos tentar dar algumas pistas sobre a pergunta que dá título ao post: afinal, onde se hospedar?

Li em muitos sites e artigos que o viajante tem que ficar na cidade murada. "Nem pense em ficar em outro lugar! O charme de Cartagena é a cidade murada", e por aí vai.

Não concordo com esse radicalismo: coisa mais autoritária! Pois na minha opinião, a resposta é: depende! :-/  

E depende de quê? Do seu bolso, das suas expectativas e do seu estilo de viagem. Vou dar algumas das minhas impressões e espero que sejam úteis se algum candidato a viajante aparecer por aqui. Mas lembre-se: viagem é uma coisa muito pessoal. Se todos fizessem o mesmo roteiro, ficassem nos mesmos lugares, etc, ainda assim cada um experimentaria a viagem de uma forma.

Eu, por exemplo, fiquei em Bocagrande e adorei! O bairro foi consequência da escolha do hotel, que tinha boas referências no TripAdvisor e estava com bom preço. Não acho que tenha aproveitado menos a viagem por ter ficado lá. Mesmo porque, com 20 a 30 minutos de caminhada, eu já estava no centro (fiquei num hotel perto da Base Naval). Por outro lado, quem fica mais perto do Hilton vai depender de táxi, que é um transporte barato na Colômbia de forma geral.

Aí entra o seu perfil: se você é uma pessoa "noturna", que quer andar no máximo dois quarteirões da balada até a cama, a cidade murada (talvez também Getsemaní) é realmente a melhor opção. Bocagrande tem alguns cassinos, mas lugar de diversão mesmo eu não vi.

Já eu sou uma pessoa "do dia": de manhã e à tarde eu andava no centro histórico e à noite tudo o que eu queria, com meu desastroso senso de orientação, era andar numa avenida reta e localizar restaurantes, supermercados, etc com a maior facilidade. Acho que esse foi um dos motivos que me fizeram gostar de ter ficado em Bocagrande.

Por outro lado, a proximidade da praia não chega a ser uma vantagem: as praias urbanas de Cartagena, de modo geral, não são muito atrativas: faixa de areia estreita, muitas pedras, muitos vendedores...

Em Getsemaní, como já citei no post, as maiores discussões são sobre a segurança. Vale pesquisar, pois dentro do mesmo bairro as realidades podem ser bem diferentes. Recomendo conferir o TripAdvisor e também este tópico no Mochileiros sobre hospedagem em Cartagena. Foi criado em 2010 e muita coisa mudou; vale ver as diferentes experiências dos viajantes.

El Cabrero e Marbella eu realmente não recomendaria muito: tive a impressão de serem bairros "de passagem", pouco amigáveis a pedestres e com poucas opções de comércio.

Outra coisa que, pelo que andei lendo no TripAdvisor, eu não aconselharia: pegar sistema all inclusive em Bocagrande. Já li relato de gente que fez isso por insistência do agente de uma CVC da vida. Alguns hotéis no bairro trabalham com turismo de massa (ao contrário dos hotéis na cidade murada, que são menores) e muitas vezes a alimentação é ruim. E o principal: Bocagrande tem muitas opções de alimentação (não tanto estabelecimentos gourmet, como na cidade murada; aqui são mais lojas de rede) e é tranquilo para andar à noite. Por que você vai perder a chance de explorar essas opções e ficar preso à comida do hotel? 

Como falei: viagem é uma coisa muito pessoal e o all inclusive pode realmente ser uma comodidade... mas, nesse caso, pesquise os relatos sobre a qualidade do rango, OK?

Por enquanto é só. Até a próxima!













quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Alguns comentários sobre o hotel

Cheguei ao Hotel San Martín lá pelas 13h; antes do horário do check in, que o voucher da Decolar indicava como sendo às 15h.

Eu estava meio insegura com a reserva (pré-paga!) pela Decolar, depois de ver algumas histórias em que o viajante chegava e ninguém no hotel estava sabendo da reserva. Mas a recepcionista pegou o papel e pediu que esperasse 20 minutos, quando o quarto ficaria pronto. Fiquei esperando na recepção até que um dos funcionários pegou minha mala, minha mochila (não estou acostumada a essas mordomias) e fomos ao quarto no segundo piso. Lá ele fez uma espécie de "briefing": mostrou os controles do ar e da TV, o cardápio do frigobar, explicou o mecanismo do cofre e fez uns testes rápidos em alguns equipamentos para mostrar que estavam funcionando. Mesmo no Hotel Aquino, onde eu tinha ficado em Berlim (e em outros hotéis bons onde já pernoitei, paga pelo meu antigo emprego!) eu não havia recebido esse tratamento. Lá era mais "se vira" - apesar de ser um hotel de padrão um pouco mais alto em termos de conforto.
A bonita aqui não tirou foto... para não ficar um post longo sem nenhuma figurinha, vai um print do Streetview

O San Martín tem cara de recém-reformado, ar condicionado e frigobar silenciosos, TV moderna, rádio-relógio, secador, cama muito confortável... não é luxuoso (o padrão é 3 estrelas), mas é confortável e muito bom naquilo que se propõe. O café é "buffet" (entre aspas porque você indica o que quer e os funcionários vão colocando) e começa a ser servido às 6:30. Os pontos não tão positivos são o wifi, que lá pelas tantas não queria mais funcionar no meu quarto (uma rede aberta desconhecida foi a solução - meninos, não façam isso em casa!) e o banheiro sem janela nem exaustor. Com várias pessoas num mesmo quarto, isso pode ser um problema! :-D

Pelo menos no meu quarto, o banheiro ficava uns 12 cm acima do nível da cama. Isso pode também ser uma dificuldade para quem precisa de um quarto mais acessível.

Uma reclamação que vi bastante sobre hospedagem em Cartagena foi sobre cheiro de mofo nos quartos. O clima quente e úmido não facilita! Mas esse foi um problema que não encontrei no San Martín. 

Outra coisa comum nos hotéis de lá é o café da manhã com opções fechadas. Isso pode ser um problema se você, como eu, não é fã de ovos, omeletes e afins. Essa é uma das bases do café da manhã na região. Então o esquema buffet do San Martín acabou sendo mais uma vantagem no meu caso. Eles até servem ovos mexidos preparados de várias formas, mas você pode simplesmente pegar outras coisas - embora a variedade não seja gigante, atende a necessidade.

Gostei demais da equipe do San Martín: não é à toa que o atendimento deles é um dos itens mais elogiados no TripAdvisor. Estão sempre ligadíssimos. O portão de entrada tinha uns truques para abrir - mas o rapaz da portaria já estava ligado se alguém tivesse alguma dificuldade. Superprestativos para tirar qualquer dúvida. Um esquema eficiente, mas sem ser robotizado. Senti-me bem acolhida, e com certeza isso foi importante para minha viagem. Enfim, eu ficaria lá outra vez sem piscar!

Gente, esse não é um post patrocinado (até porque ninguém ia querer patrocinar um blog humilde e bissexto como o meu, haha!). É que gostei mesmo, e vale a pena falar de coisa boa além da Tek Pix.

Até o próximo post!