sábado, 24 de maio de 2014

Andei vendo: Getúlio

Mais um post sobre filme?

É... tenho posts sobre outros assuntos para escrever; mas os que tratam de filmes acabam sempre furando a fila. O motivo é simples: se não escrever logo, não escrevo mais. Deixei de comentar alguns ótimas produções por ter deixado o bonde passar.

Filmes com tema histórico/político? Posso até não ir ao cinema conferir, mas no mínimo eles cutucam minha curiosidade. Então fui ver esse bem no estilo Globo Filmes: atores conhecidos, trabalho de caracterização bem feito, figurino e cenografia bem cuidados e... um ar que lembra as minisséries da Globo, aquele jeito meio grandiloquente de tratar a História. Isso já fica claro na narração do início, no melhor estilo "Getúlio Vargas for dummies".

Achei alguns diálogos meio forçados, numa linguagem empostada e aí não há interpretação que resista. Por outro lado, nada que chegue aos exageros tão criticados em Olga - para citar um caso clássico.

Uma coisa que achei interessante foram alguns posicionamentos claros do roteiro em questões que, pelo menos até alguns anos atrás, eram bem controversas:

- O então presidente realmente foi a cabeça por trás do atentado a Carlos Lacerda? A resposta dada pelo filme é clara: não. Vemos um Getúlio preocupado em identificar e punir os responsáveis, e muitas vezes chocado ou impotente diante do que seus aliados tentavam fazer em nome dele. 

- A carta-testamento de Getúlio já estava pronta há alguns dias; ou seja, ele já considerava a ideia de suicidar-se e fazer disso um ato político.

Não há espaço para personagens ambíguos. As exceções são Gregório Fortunato (que os livros de História sempre mostraram como um personagem meio misterioso) e - um pouco menos - Benjamin Vargas e o vice Café Filho.



Há uma geração que se lembra dessa fase da História, mesmo que a tenha vivido na infância; e muito do que o Brasil é hoje tem explicações que vêm daquela época (o ciclo de industrialização, as alianças ambíguas na II Guerra, as leis trabalhistas, a Voz do Brasil no rádio e por aí vai). Se você é fã de dramas históricos, certamente terá curiosidade de ver este filme e, para mim, valeu a pena ter satisfeito essa curiosidade. Saiba que o filme tem falhas: o didatismo e os diálogos forçados estão lá e comprometem o resultado; mas nada como tirar suas próprias conclusões, certo?

Obs: Há uma cena em que Getúlio está fazendo uma refeição e corta um bife enorme. Um gaiato da plateia comentou: "é Friboi". Tony Ramos e Roberto Carlos não vão se livrar da Friboi tão cedo, hahaha!

Ficha: Getúlio, 2014. Direção: João Jardim. Com Tony Ramos, Drica Moraes, Thiago Justino e outros. 100 min. Distribuição: Copacabana Filmes.

domingo, 18 de maio de 2014

Andei vendo: A Copa Esquecida

Hoje foi o último dia do festival. Os três filmes pareciam interessantes mas, com a correria do fim de semana, achei melhor conferir um só e optei pelo que tinha o tema mais inusitado.

"A Copa Esquecida" é uma co-produção ítalo-argentina, que trata de um mundial de futebol  que teria sido realizado na Patagônia argentina em 1942 - ou seja, no auge da Segunda Guerra.

Como assim? Tudo começou quando um conde chamado Vladimir Otz resolve entrar em contato com a Fifa para garantir a realização da Copa do Mundo e propõe realizá-la na Patagônia. Gasta muito dinheiro, contrata um cinegrafista, manda confeccionar (ou trazer?) uma taça e, ao perceber que não é levado a sério, resolve organizar o mundial assim mesmo. As equipes são formadas por imigrantes, soldados, índios mapuches...

Imagens de arquivo, entrevistas com ex-participantes ou seus descendentes... alguns são verdadeiras figuraças, como o neto do cinegrafista Guillermo Sandrini. Alguns lances curiosos e frases inesperadas garantem vários momentos engraçados. Sem falar do inusitado árbitro.:-)

O filme é classificado como documentário, mas... ("spoiler" aqui; análise mais detalhada aqui)

Dos filmes que vi no festival, esse foi um dos meus preferidos. Ficou muito acima da expectativa. A história é realmente interessantíssima e a montagem ajuda a tornar o filme ainda mais envolvente. Recomendadíssimo!


Ficha: A Copa Esquecida ("Il Mundial Dimenticato"), 2011. Direção: Lorenzo Garzella, Filippo Macelloni. 95 min.

sábado, 17 de maio de 2014

Filme: Altos e Baixos

O post não é sobre esse filme, e sim sobre um outro, produzido na República Tcheca, de mesmo título em português. Beleza?

Essa foi mais uma produção que conferi no primeiro fim de semana do Festival de Cinema Europeu. A trama tem vários núcleos que às vezes se encontram. Exceto por uma família de perfil mais "burguês" (que tem alguns segredos revelados ao longo do filme), a maioria dos personagens circula pela marginalidade: ladrões, ex-presidiários e por aí vai. Um dos personagens é hooligan - mas não pode ir aos estádios por estar em condicional - e tem um altar para seu time do coração, o Slavia Praha. Essa é basicamente a relação do filme com o tema "esporte".

Exceto pela "família burguesa" que citei acima, cuja trama tem um perfil mais dramático, o filme faz jus à classificação de comédia. O humor aparece mais pelo efeito surpresa: é uma frase de efeito inesperada, é um dos brinquedos bregas (colecionados por uma das personagens) que aparecem na tela, e por aí vai. Também existe uma boa dose de crítica social: é o funcionário que avisa sobre um furto depois que os ladrões foram embora, é o policial que se conforma em registrar a ocorrência sem acreditar muito que vá ser solucionada... por tudo isso o filme rendeu boas risadas na sala de projeção. 

Enfim, gostei. Uma boa comédia com crítica social que toca em questões como racismo e xenofobia.
 

Ficha: Altos e Baixos (Horem pádem), 2004. Direção: Jan Hřebejk. Com Jirí Machácek, Petr Forman, Jan Tříska e outros. 108 min

Filme: Sangue nas Águas

Liberdade, amor. Essa seria a tradução literal do título original do filme ("Szabadság, szerelem"). O cenário é Budapeste durante a Revolução de 1956, quando os húngaros tentaram se livrar do domínio soviético e foram violentamente reprimidos. A seleção nacional de pólo aquático está nos preparativos para as Olimpíadas de Melbourne (Austrália) que será realizada no mesmo ano. Karcsi, um dos atletas, envolve-se com Viki, uma estudante politizada, e fica dividido quanto a participar ou não dos jogos.

Vendo a sinopse, achei que fosse um filme sobre esporte que tinha a revolução como pano de fundo. Na verdade é o contrário: está mais para filmão de guerra. Muitos tiros de canhão, metralhadora, bombas explodindo... e sempre muita tensão no ar. Claro que não é só isso; existe uma história e é bem contada. No entanto, foi fácil sentir a reação de surpresa do público. Então não vá achando que é "sobre esporte", beleza? [comentei aqui]. Mas vá preparado para ver um ótimo filme.


O confronto esportivo (não só esportivo) entre Hungria e URSS nos jogos de Melbourne aconteceu mesmo e é mostrado no filme. Existe também um documentário, dirigido por Quentin Tarantino e narrado por Mark Spitz, sobre a história desse jogo. Fizeram até um reencontro entre ex-jogadores de ambas as equipes. Nunca pensei que um dia teria vontade de ver um filme do Tarantino, haha! (Nada contra, mas não é meu estilo). O jogador húngaro que saiu sangrando da piscina foi técnico do Mark Spitz, o que ajuda a explicar a participação dele no documentário.

Uma análise detalhada de "Sangue nas Águas" pode ser vista aqui. Apenas não concordo totalmente com a afirmação de que o protagonista é mostrado como alguém alienado (está mais para intimidado, e tem consciência do que acontece).

Alguns comentários sobre o contexto histórico:

- A AVO, citada várias vezes no filme, era a polícia secreta húngara.

- Ao longo do filme, aparecem várias bandeiras. A história está contada aqui.

Nas cenas em que a bandeira é empunhada pelos revolucionários, há um recorte na parte central. A parte recortada é justamente o escudo de inspiração stalinista. A bandeira com a cruz de Santo Estevão aparece na cena final, com uma tarja preta.

Resumindo: filme muito bom. Recomendadíssimo!

Ficha:  Sangue nas Águas (Szabadság, Szerelem), 2006. Direção: Krisztina Goda. Com Iván Fenyö, Kata Dobó e outros. 123 min. Distribuiçao: Imagem Filmes

terça-feira, 13 de maio de 2014

Andei vendo: A Quadra dos Sem Teto

Como escrevi no post anterior, aproveitei o final de semana para conferir alguns filmes do Festival de Cinema Europeu. Um deles foi essa produção polonesa.

Jacek era um jovem e promissor jogador de futebol que teve sua carreira encerrada precocemente. Anos depois, tenta firmar-se como treinador e dá aulas de esporte para crianças em Varsóvia. Sua vida está sendo destruída pelo alcoolismo e Jacek acaba saindo de casa para sobreviver nas ruas. Lá é acolhido por um grupo de sem-teto - as histórias de vida dessas pessoas também são mostradas no filme. Então um deles tem a ideia de participarem da Copa do Mundo dos Sem Teto, que será realizada na Alemanha. Será que a equipe - treinada por Jacek - vai conseguir?

O tema "pessoas desacreditadas/marginalizadas decidem formar um grupo, superar tudo e mostrar do que são capazes" volta e meia aparece em filmes como Ou Tudo ou Nada e O Concerto, e também neste. A história começa no inverno, o céu está quase sempre cinza e nublado, a maior parte das cenas se passa em ambientes escuros... tudo isso deixa a atmosfera ainda mais deprimente. Já na fase dos treinos aparece um céu azul aqui, uma graminha verde ali...

Para mim essa é a maior dificuldade do filme: encaixar os "momentinhos de esperança" na vida barra-pesada dos personagens. Não que o filme tenha ficado piegas (a meu ver, não ficou), mas acho que teve um probleminha de ritmo. Na reta final as coisas acontecem muito depressa e, às vezes, de um jeito muito "fácil" (como na coincidência da cena do estúdio). Mas, como diz o filósofo, "faz parte". 

Confira a página do filme no IMDB e um trechinho do filme (achei melhor que o trailer oficial que, de qualquer forma, também não tem legendas). 

Ficha: A Quadra dos Sem Teto ("Boisko bezdomnych"). (2008). Direção: Kasia Adamik. Duração: 118 minutos. Gênero: Drama. Com Marcin Dorocinski, Eryk Lubos, Dmitriy Persin e outros. 

Observação: A Copa do Mundo dos Sem Teto existe mesmo. É realizada todos os anos (a próxima edição, 2014, será realizada em Santiago do Chile) nas modalidades masculina e feminina.

Observação 2: Alguém me explique por que o Blogger resolveu acertar o tamanho de fonte. Vai entender...

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Festival de Cinema Europeu no CCBB

Uma dica para quem gosta de cinema é o Festival de Cinema Europeu no CCBB (informações também no site do CCBB), que faz parte da programação da Semana da Europa. O festival teve início no último dia 7 e vai até 18/05). Cada filme tem duas exibições. A entrada é gratuita; basta pegar o ingresso. A distribuição começa 1h antes do início da projeção.

Em tese (eu disse: em tese!), o mote das produções é o esporte. Ele pode ser um elemento central ou um detalhe no pano de fundo. Mesmo assim, achei que em alguns casos essa relação com o esporte ficou meio forçada. Isso aconteceu na produção tcheca "Altos e baixos", que vi hoje, e talvez de certa forma no húngaro "Sangue nas águas". Vou escrever posts específicos sobre esses filmes, beleza?

Antes de cada filme está sendo mostrado esse vídeo contra o uso de celular ao volante. Achei genial e vi que o público reagiu.

Quero postar em breve sobre os filmes. Agora o sono não deixa... :-(

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Filme - Lunchbox

Dois filmes num fim de semana? Há tempos eu não fazia isso... na verdade, faz tempo que eu não ia ao cinema. Além disso, nas últimas vezes fui enrolando para escrever no blog e acabava desistindo.

Dessa vez fui conferir uma produção indiana cuja história se passa em Mumbai. Saajan Fernandes (*) é um viúvo que trabalha em contabilidade e está prestes a se aposentar. Um homem metódico, poucas palavras e uma vida também sem grandes emoções. Ainda por cima aparece um funcionário mala que precisa aprender o serviço para substituir o colega.

Também sem muitas emoções é a vida de Ila: despede-se da filha que vai à escola e vai preparar a marmita para o marido - que não está nem aí para ela. Então um dia o entregador de marmitas faz confusão e entrega o almoço do marido para... Saajan. Quando a marmita volta vazia, Ila fica toda feliz achando que pegou o marido pelo estômago. Quando percebe o engano, resolve continuar fazendo as marmitas para o desconhecido que gostou da comida, junto com um bilhete. E assim começa uma troca de cartas, desabafos, conselhos...

Para saber mais da história, só mesmo assistindo. Ficou acima da minha expectativa. Apesar de estar sendo rotulado como "drama/romance" ou "romance", não achei meloso. Tem alguns momentos de humor - principalmente envolvendo o funcionário mala -, mas não é uma coisa escrachada. Também gostei da interpretação, principalmente do ator que faz o protagonista. Pode-se perceber como o estado de espírito dele vai se alterando sutilmente ao longo da trama.

Enfim, gostei do filme! Aí vai o trailer:



Ficha: Lunchbox (Dabba), 2013. Direção: Ritesh Batra. Com Irrfan Khan, Nimrat Kaur, Nawazuddin Siddiqui, Lillete Dubey. 104 min. Distribuição: Imofilmes

(*) Algumas pessoas na sala comentaram quando o personagem foi chamado pelo nome. Sobrenomes de origem portuguesa são resultado da colonização feita por lá. Alguns exemplos aqui e aqui. Eu mesma já atendi no trabalho o telefonema de um indiano de sobrenome Fernandes, hehe! Falar inglês ao telefone, e o homem com sotaque forte... foi tenso. Mas deu certo.

Meu sonho de consumo é dar a volta ao mundo pelos países de colonização portuguesa. O problema é aquele pequeno detalhe ($$$) mas sonhar, pelo menos, é de graça. :-)

Eu sempre tinha evitado os cinemas do Liberty Mall por causa dos preços absurdos que eles cobram de estacionamento (R$ 9,00 a primeira hora), mas paguei R$ 5,00. Pelo visto, a tabela nos fins de semana é diferente. Ainda bem!

sábado, 3 de maio de 2014

Filme - Os filhos do padre

Hoje foi dia de cinema e resolvi conferir essa produção croata que fez sucesso no país de origem e em festivais mundo afora.

A história se passa num povoado  em uma ilha na Croácia. O padre Fabijan (Kresimir Mikic) fica chocado ao perceber que morrem mais moradores do que nascem. Então ele tem um plano: furar as camisinhas antes que elas sejam vendidas aos homens da ilha. Para isso ele precisa de alguns aliados (a ideia nasce a partir da confissão de um deles). Alguns segredos dos habitantes vão sendo descobertos e muitas situações engraçadas/aflitivas se desenrolam.

Então o padre descobre não ter o controle das consequências de seu plano e, pior: algumas delas são trágicas.

O filme é rotulado como "comédia" ou "comédia dramática". Eu já tinha escrito sobre essa ambivalência ao comentar alguns filmes aqui no blog. Este é um pouco diferente: não creio que seja uma comédia com pitadas dramáticas. Está mais para um filme que começa como comédia e, chegando à reta final, converte-se em drama e aborda temas difíceis. Algumas cenas no início podem ser um pouco constrangedoras se você for com seus pais (hehe), mas é só no início mesmo.


Os filhos do padre - trailer

Aqui você encontra uma crítica detalhada, com direito a spoiler.

Particularmente gostei muito: faz rir, pensar e se emocionar. Também gostei do trabalho dos atores; o protagonista é contido e expressivo ao mesmo tempo, e achei que todos mandaram muito bem. 

Outra coisa que gostei no filme: o fato de ser falado num idioma com uma sonoridade incrível. Para mim soa mais "vocálico" e suave que russo e polonês, por exemplo (parece menos chiado), se bem que a língua escrita e todas aquelas consoantes dão um pouco de medo! Sou suspeita: quando estive em Pécs, gostava de sintonizar as rádios croatas. Sem entender nada, só por achar bonito [alguém dá aulas de croata por aqui? :-) ]

Ficha: Os filhos do padre (Svećenikova Djeca), 2013. Direção: Vinko Bresan. Com Kresimir Mikic, Drazen Kuhn, Niksa Butijer e outros. 93 min. Distribuição (BR): Pandora Filmes.