sexta-feira, 22 de julho de 2016

Minha saga com as arepas

Pessoal, termina aqui a série de posts sobre minha saga colombiana. Vou tirar uns dias sem postar e depois retomo a programação interrompida do blog, inclusive sobre o curso de húngaro. Beleza?
  
Comentei um pouco sobre as arepas aqui. A pergunta era: como fazer quando voltasse ao Brasil?

Esse prato típico é feito com um produto chamado masarepa, que nada mais é do que farinha de milho pré-cozida. A marca de masarepa mais conhecida é a Harina PAN. Confiram:


Prazer, Harina PAN

Primeiro abri o pacote de harina pan integral. Segui as instruções da embalagem: 1 xícara de harina pan, 1 1/4 xícara de água. Deixei descansar uns minutos e tentei moldar as bolinhas para achatá-las em seguida e fritar numa frigideira anti-aderente.

Fuén fuén fuén fuén fuén... as arepas ficavam molengas em cima e queimavam embaixo. Quebravam na hora de virar, um desastre total.

Resolvi fazê-las no forno. Amenizou um pouco. Então encontrei uma dica no Youtube: para deixar a massa menos grudenta, o truque é reduzir a quantidade de água. Passei a usar 1 xícara de água para cada xícara de harina pan. Melhorou bastante.

Acabou a harina pan integral e passei a usar a branca. Aí outra descoberta: a harina pan branca é bem mais fácil de manusear. Consegui moldar as arepas com mais facilidade, embora elas continuem com uma aparência meio tosca. Outra coisa interessante é que, com a massa branca, a arepa tende a formar uma espécie de bolha e fica com a divisão interna como um pão sírio (a foto explica melhor):


A arepa forma uma espécie de bolsa

Essa chapa perfurada (parrilla de arepas) foi comprada no Éxito
 Frigideira levemente pincelada com óleo, só para garantir. Se a sua tiver o anti-aderente em dia, não precisa
 

Ficou assim porque sou fã de comida queimadinha

Ah, mas aqui não se vende harina pan. E agora?
Uma dica que me deram: milho para canjica triturado. Ainda não testei.

Outra dica, e essa vai para os moradores de Brasília: os meninos da Boa Cozinha Colombiana participam de eventos (praças de food truck, festas juninas, etc) vendendo arepas recheadas. Você também pode comprar arepas simples para depois esquentá-las em casa. Basta fazer o pedido pelo Whatsapp.

Vale a pena ler também este artigo sobre a comida colombiana e uma cozinheira que vende suas especialidades em São Paulo.

Vou tirar uns dias sem escrever e depois volto com novos e velhos assuntos. Até mais!




Gordices da viagem

Olá!

Aqui vão algumas fotos e comentários sobre iguarias da viagem.

Na verdade, a primeira gordice foi consumida lá mesmo, no bairro El Poblado. Não muito longe do CC Santafé encontrei uma feirinha de artesanato e acabei esbarrando numa barraca que vendia "doces brasileiros". Como assim? Conversei uns segundinhos com o jovem colombiano que tinha feito curso de gastronomia no SENAC em Sampa e vendia brigadeiros de vários tipos por 3.000 pesos a unidade. Claro que comprei um. Mais sobre eles aqui:


Mais algumas gordices: chocolates Santander, rolinhos de canela e doce de leite com coco Juan Valdez, doces diversos (esse doce de uchuva é meio azedinho e delicioso), café:

No próximo post escrevo sobre minhas tentativas com as arepas. Até mais!

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Depois da viagem, alguns comentários

Como diz o rei: "são tantas emoções, hehehe!"

Fui bem acolhida, conheci pessoas ótimas. Fiquei feliz em ter escolhido a Colômbia para fazer o curso. É um país parecido com o Brasil em muitas coisas, mas ao mesmo tempo é cheio de novidades, a começar pelo idioma. Ao mesmo tempo em que eu sabia não ser nativa, também não me sentia totalmente estrangeira. Era como se estivesse "infiltrada" na sociedade. Às vezes vinha uma sensação como a de alguém que conhece um parente já adulto: você reconhece feições e tiques, mas ao mesmo tempo sabe que está vendo aquela pessoa pela primeira vez.

Foi o curso mais longo dos que eu tinha feito: 5 semanas. Acho que consegui evoluir bem no aprendizado. Apareceram algumas armadilhas de portunhol. Umas eu aprendi que existiam e agora me previno; outras ainda me dão rasteira. Talvez pese um pouco o fato de que os livros que usamos no Brasil são os mesmos usados por estudantes de outros idiomas, com muita ênfase em temas como "por x para", subjuntivo, pretérito perfeito x imperfeito, etc... coisas que conseguimos aprender mais rápido que os anglo-saxônicos, por exemplo. Não que eu defenda aqueles métodos baseados em "evite portunhol" (acho que seria um tédio aprender assim)... mas a imensa maioria dos erros que eu cometia no curso e nas ruas era causada por interferência do português, isso é fato. Nem sempre os livros nos dão os instrumentos para evitar essas armadilhas. Percebi que os professores que mais me ensinaram aqui no Brasil, aqueles com quem mais aprendi, eram os que de vez em quando deixavam o livro de lado e nos davam espaço para falar e cometer erros. Ainda sobre esta questão (usar livros tradicionais espanhóis e fugir deles de vez em quando), encontrei este trabalho e achei bem interessante.

Sinto mais segurança na compreensão auditiva: consegui entender relativamente bem músicas, filmes e pessoas falando comigo. Já na parte da fonética... ouvir minha voz gravada falando em espanhol foi um choque. Percebi mais ainda o quanto minha entonação é de uma brasileira falando português. Porém não sei muito bem como melhorar isso e pegar aquela musicalidade deles. É como dançar: não basta memorizar os movimentos e repeti-los de maneira mecânica; é preciso que a dança "entre no sangue" como se tudo aquilo parecesse fluido e fácil. Palavra de quem não leva o menor jeito para isso também. :-(

Num primeiro momento tive um choque quando vi que nem sempre o espanhol das ruas é igual ao que aprendemos na escola. Isso tanto por causa da diferença entre "oficial" e "popular" quanto pelas variações regionais mesmo. Por exemplo: no Brasil me ensinaram que baño era só de imersão, e tomar banho de chuveiro é ducharse. Então aprendo que, para os colombianos, bañarse também pode ser no chuveiro. A diferença entre bañarse e ducharse, lá, é como aqui para nós: "tomar banho" é uma operação completa; "tomar uma ducha" é um banho rápido e nem sempre tão caprichado. :-D

Outra coisa que me deixou em choque foi esta capa de livro aqui:

"Personas que gustan de ayudar a los demás"??  O.O
Nunca, jamais, em nenhum momento da vida eu tinha visto essa estrutura com cara de portunhol. Se alguém puder explicar nos comentários em que situações podemos dizer assim em vez do clássico "a quienes les gusta ayudar a los demás", agradeço! Esse livro estava exposto perto do caixa do supermercado e tive que perguntar às outras clientes da fila se era normal dizer as coisas dessa forma. E quando elas disseram que sim, fiquei mais em choque ainda.

Depois dessa aventura na Colômbia, vou continuar estudando aqui em Brasília e gostaria muito de fazer outro curso na UPB no futuro.

Palavras do dia - alguns colombianismos que vi as pessoas usando no dia-a-dia:
- chévere: legal, bacana (Colômbia, Venezuela).
- Conchudo: folgado. Sabe aquele estudante que nos trabalhos em grupo não quer fazer nada? É ele mesmo. Usei muito essa palavra para falar de uns seres que se hospedaram no hostel. Os estagiários do clube de conversação morriam de rir. Estrangeiros falando gíria soam divertidos e - eu acho - fofos; e agora eu é que estava nesse papel.
- Vaina: coisa. Qualquer coisa. Na Colômbia e Venezuela, é equivalente ao trem dos mineiros e goianos. Vaina engorrosa: trem custoso.
- Provocar: ¿Te provoca un tinto?: você está a fim de tomar um cafezinho? Provocar: apetecer.
- Regalar: além do sentido que aprendemos no dicionário (dar de presente), esse verbo é usado pelos colombianos de forma mais ampla. Exemplos: ¿Me regala su nombre? ¿Me regala la hora? - para perguntar pelo nome de alguém ou saber que horas são.
- ¡Qué pena (con usted)!: pena aqui tem o sentido de vergonha. Expressão usada antes de  discordar educadamente ou dar uma notícia que provavelmente não será agradável. Algo como "desculpe, mas..."
- Mucho gusto/con gusto (e variações): no primeiro dia de aula no Brasil, aprendi fórmulas tradicionais de apresentação: encantado(a) quando somos apresentados a alguém, de nada quando alguém nos agradece... em Medellín o que mais ouvi foi mucho gusto em ambas as situações. Não chega a ser um colombianismo, pois é uma expressão usada também em outros países.