sábado, 15 de fevereiro de 2014

Divagando sobre aprendizado de línguas - e o nivelamento no curso de alemão

Quando comecei a estudar alemão, há algumas décadas (abafa!) as metodologias de ensino de idiomas eram diferentes. O livro usado era o Themen (depois virou Themen Neu, Themen Neu Aktuell...) que, no apêndice, tinha as indefectíveis tabelas-resumo de gramática. Lá pelo 6° semestre de curso já tínhamos visto praticamente todas as declinações e tempos verbais: Konjunktiv I e II, genitivo, tudo isso. Tirei um certificado, o antigo ZDaF (seria mais ou menos um B1 turbinado) e sabia usar as estruturas gramaticais direitinho. Mas se aparecesse um turista alemão perdido, eu travava: traquejo para conversação? Esquece.

Quando voltei a estudar idiomas no final dos anos 1990, vi que as coisas tinham mudado: os alunos eram mais estimulados a falar desde o início, com o instrumental que tivessem. Aprender gramática ainda era (é) importante, mas não existia mais a mentalidade de "aprenda primeiro todas as conjugações/declinações/etc e num dia mágico você estará pronta para falar sem nenhum errinho".

Fiz mais uns anos de pausa e voltei a estudar idiomas. Vejo que hoje os livros praticamente não têm mais os famosos quadrinhos-resumo de gramática que tentávamos decorar antes das provas. Os quadrinhos até existem, mas são parciais e distribuídos ao longo dos capítulos. A ideia é que o aluno vá absorvendo aquilo aos poucos, sem se dar conta de que está, sim, estudando gramática.

O que acho disso tudo? 1) É possível aprender bem usando qualquer uma dessas abordagens; 2) levadas ao extremo, ambas são ruins.

O "dia mágico" realmente não existe! Além disso, é muito frustrante estudar  um idioma por 3 ou 4 anos antes de começar a usá-lo de alguma forma. A experiência na Hungria foi fundamental para me abrir os olhos com isso.

Por outro lado, aquela parada na aula para explicar a gramática de um jeito mais sistemático é muito importante. Vejo pessoas com algum tempo de estrada sentindo-se inseguras com coisas básicas, como trocar nominativo pelo acusativo cursando o B1.

Pouco antes da minha viagem, houve uma DR (discussão de relacionamento) na turma de alemão em Brasília. Estávamos com os resultados da primeira prova e algumas notas tinham sido ruins. A professora levantou a bola: será que todo mundo estava realmente pronto para continuar progredindo nos níveis? Disse ainda que as provas para certificado estão ficando mais difíceis e muita gente, quando vai fazer curso na Alemanha, faz o nivelamento e fica abaixo do nível que estava cursando no Brasil. 

Nessa hora alguns colegas disseram que tinham cometido erros que antes não eram corrigidos por outros professores e, por isso, achavam que estivessem bem - e agora sentiam-se, digamos, um pouco enganados - e muito frustrados.

Por que estou dizendo isso? Porque talvez você tenha chegado aqui pelo Google, esteja prestes a fazer uma prova lá e passe por essa experiência.

O teste online que citei no post anterior é muito voltado para gramática, embora tenha algumas questões mais voltadas para vocabulário. Quando fui fazer o teste "presencial", as professoras já tinham esses resultados e estavam predispostas a me colocar numa turma de C1.

A parte oral do teste foi basicamente uma entrevista: perguntaram quais os meus objetivos, por que eu tinha escolhido fazer o curso em Göttingen, se eu tentaria algum certificado... falei que queria desenferrujar, testar meu conhecimento na rua, aumentar o vocabulário e me desafiar um pouco; mas que o C1 ficaria muito alto para mim.

No fim elas levaram a sério a história de "me desafiar" e me puseram no C1.2. Fizeram uma turma mista de C1.2 e C2, já que havia poucas pessoas para o C2 (uma delas era professora de alemão). O grupo tinha gente de dois perfis: os que falavam praticamente como nativos; e os "enferrujados", como eu.

Tivemos duas mudanças de turma ao longo do curso: uma colega saiu do grupo B2 em que estava, e outra pediu para fazer o curso no B2.

Resumo da ópera: não se impressione demais pelo teste de nível. Ele não diz tudo. Durante as aulas é que você e seu professor terão condições de avaliar melhor se você está realmente no grupo certo.

Tschüs!

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