domingo, 9 de junho de 2013

Filme: Puskás Hungria

Como escrevi neste post, o CCBB está apresentando uma mostra de filmes húngaros. Comi mosca nos primeiros dias e estou tentando recuperar um pouco o tempo perdido. Agora foi a vez de um documentário: Puskás Hungria ("Puskás Hungary"). 

Aqui vai uma parte (legendas em inglês); e aqui vai o trailer.

Eu mesma sabia muito pouco sobre a vida dele: sabia que foi o mais famoso futebolista húngaro e considerado um dos melhores do mundo, fez parte do grupo que encantou o mundo na Copa de 1954, tinha patente militar e... pouco se fala do "depois". Algumas referências ao fato de ele ter jogado no Ocidente e terminado a carreira mais velho, com problemas de sobrepeso... até o falecimento em 2006.

Só que a trajetória de Ferenc Puskás (ou Ferenc Purczeld Biró, seu nome de registro) foi bem mais interessante do que isso. O documentário segue uma ordem cronológica, um pouco quebrada no final, para mostrar como o garoto simples que jogava com bola de meia chegaria ao Honvéd, à seleção húngara e depois ocuparia outros espaços no futebol pelo mundo. Muitos depoimentos de amigos, parentes e do próprio Puskás. Às vezes esses depoentes falam diretamente para a câmera e às vezes os depoimentos são usados como narração. Fotos, gravações de época... a narração da final de 1954 com a Alemanha, com as frases de efeito do locutor, garantiu algumas risadas da plateia durante a sessão. Outra fonte de informação: as fichas de Puskás nos arquivos da época. É interessante quando o filme mostra as críticas escritas na ficha (por exemplo, sobre o "individualismo" do jogador/militar) e, logo em seguida, os depoimentos dos companheiros elogiando o espírito coletivo do amigo.

Os tempos eram duros e a repressão, fortíssima. A execução de um dos jogadores da seleção húngara, Sándor Szűcs, em 1951, tinha sido uma demonstração muito clara disso. Puskás e os demais jogadores também estavam sempre na mira do regime - fosse em território húngaro ou nas oportunidades de viajar para o exterior. Em 1957 os jogadores do Honvéd fizeram uma excursão na América do Sul, começando pelo Rio, e... bem, esse artigo no Terra Magazine conta mais e contextualiza o futebol da Hungria naquela época.

Depois veio o exílio, com um longo período sem jogar devido a uma punição da FIFA (mais aqui) e o crédito de confiança do Real Madrid. Puskás agarrou essa chance e construiu uma carreira de 9 anos no time. Agora conhecido como "Pancho", tornou-se um dos jogadores mais queridos por lá - o que não era difícil, com seu jeito bonachão e amistoso. Tentou também o comércio (chegou a montar um restaurante) e viu que não levava muito jeito para a coisa. Manteve-se no futebol, como técnico em diversos países, e conseguiu bons resultados - como a campanha do Panathinaikos, da Grécia, que chegou à final da Copa da UEFA em 1971. A passagem pela Austrália, o retorno à Hungria - onde morreria após ser vitimado pelo Alzheimer -, depoimentos de ex-jogadores como Beckenbauer, Pelé, Platini... isso também é mostrado em Puskás Hungria.

Gostei muito desse documentário. Esclarecedor, sem querer pegar o espectador pela mão para pensar no seu lugar. Mostra e provoca emoções sem explorar os depoentes. Edição muito boa. A versão brasileira tem alguns probleminhas nas legendas, mas nada que comprometa o entendimento do filme. Recomendadíssimo! E aos emotivos, um aviso: não se esqueçam da caixa de lenços!

Algumas observações:

- nos créditos finais vem a informação de que as duas netas de Puskás não falavam húngaro. Mais de uma vez tive a impressão de que os húngaros se sentem meio frustrados quando veem um descendente que não fala o idioma, numa espécie de sentimento de perda (comentei aqui).

- Pesquisando sobre a única filha, Anikó, descobri que ela faleceu em 2011, após lutar contra uma longa doença :-(     - mais aqui e aqui.

Ficha técnica: Puskás Hungria ("Puskás Hungary"). (2009). Direção: Tamás Almási. Documentário, 116 minutos. Versão com legendas em português.

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